Levou apenas um dia. Se por um lado o favorecimento de Hollywood ao seu ídolo liberalista Al Gore foi escancarado com laudêmios e até mesmo um Oscar por seu filme "An Inconvenient Truth", por outro lado a reação conservadora foi igualmente óbvia. Bastou que o líder democrata ("eleito pelo povo" na diretíssima indireta da apresentadora Ellen deGeneres) tivesse mais uma oportunidade de apresentar sua causa ambientalista (e assim alfinetar o presidente "que não foi eleito" e suas políticas ávidas por petróleo) para que se sacassem pretensas cartas na manga, acusando-o de ser um cínico consumidor de energia. Em reportagem publicada pelo grupo ABC, entre muitos outros (pesquise no Google com as palavras-chave "power bill gore", sem aspas mesmo e veja a extensão da reação da imprensa eletrônica), surgiram os primeiros engraçadinhos de plantão para dizerem que é o premiado vice-presidente quem precisa explicar uma "verdade inconveniente".
Tudo porque a conta de luz na mansão do rico neocineasta excede em valor a média do estado do Tennessee. Ora, é uma mansão! A minha despesa mensal com eletricidade em um apartamentinho de dois quartos com ar-condicionado, lavadora e secadora de roupas, lava-louças e dois aparelhos de televisão chega aos cento e cinqüenta dólares mensais. Para uma família de quatro pessoas. A despesa de minha empresa em dois andares e meio no prédio comercial onde trabalhamos passa dos dez mil mensais (é verdade, temos três elevadores e um computador para cada um dos quase seiscentos funcionários, além do ar-condicionado) e chega a dezesseis mil no quente verão do Arizona. Então uma mansão não pode ter uma conta de mil e trezentos?
Francamente, a questão do aquecimento global não é uma questão do valor da conta de luz, mas do tipo de energia que se usa e como ela afeta o ambiente. Inclusive, energias alternativas, produzidas em menor escala, tendem a custar mais que energias produzidas em grande escala. Por exemplo, o álcool combustível produzido nos Estados Unidos é caríssimo, mais caro que a gasolina derivada de petróleo (assunto para outro dia). Mas, supondo (como dizem os advogados, "só para argumentar") que fosse uma questão de valores, qual é a surpresa de que uma mansão consuma mais que uma casinha do pobre Tennessee? (pobre mesmo, quadragésimo entre cinqüenta estados americanos medidos por sua taxa de pobreza) A mim, não me surpreende.
No meu modo de ver, é mentalidade semelhante à que critica o executivo que usa muito o celular, o representante de vendas que usa muito o carro, ou o adolescente que dorme demais. Ora, cada um, em sua situação, utiliza recursos diferentemente. O problema não é que se consuma mais que a média, mas que se consuma mais que o necessário. O sujeito que vai à padaria da esquina de automóvel em vez de caminhar é mais perdulário que a pessoa que precisa dirigir até um hospital do outro lado da cidade. O consumidor que deixa a televisão ligada mesmo sem assisti-la e as lâmpadas acesas mesmo quando sai da sala pode ser (pode) mais antiambientalista que o dono de uma mansão no Tennessee.
Mas talvez o pior de tudo tenha sido perder tempo e consumir energia com a leitura desse artigo. Se foi, ou mesmo se não foi, deixe seu comentário. Ou não. :-)
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Um comentário:
E eu que pensei que não existisse mais crucificação...
Bushit! (ahahah)
Abcs
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